Respire Fundo: Um Convite à Esperança no Setembro Amarelo
- Farmácia Samuel Hahnemann
- 24 de set.
- 4 min de leitura
Junto com a primavera, vem uma sensação de renascimento. É como se a natureza,
silenciosamente, nos lembrasse: há sempre um recomeço possível.
Talvez o que vou compartilhar aqui pareça óbvio para alguns, mas, na prática, ainda é
pouco falado — e menos ainda vivido. Me veio uma vontade forte de abordar esse
tema delicado e urgente: saúde mental, depressão e suicídio.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1 em cada 4 pessoas será
afetada por algum transtorno mental ao longo da vida, sendo a ansiedade e a
depressão os mais comuns. Mas o dado que mais me impacta é este:
cerca de 700.000 pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo. Isso significa uma morte a cada 40 segundos. No Brasil, uma pessoa tira a própria vida a cada 45 minutos.
Esses números não são apenas estatísticas. São histórias interrompidas. São famílias
devastadas. A verdade é que eu nem consigo imaginar a dor de quem chega a esse
ponto. Mas conheço a dor dos que ficam.
Sou médica, e ao longo da minha vida já passei por momentos bastante difíceis
pessoais e com os meus pacientes. E percebi algo triste: ninguém nos ensina a lidar
com as emoções. Nem em casa, nem na escola, muito menos na faculdade de
medicina ou nos ambientes de trabalho. Hoje, muito se fala sobre saúde mental — o
que é um avanço. Mas ainda pouco se fala sobre como, de forma simples e prática,
podemos promover bem-estar emocional real e duradouro.
No auge de um burnout, foi quando eu encontrei — ou melhor, fui encontrada por —
uma prática que mudou a minha vida. Na época, me tornei voluntária da organização
Arte de Viver, e lá conheci uma técnica de respiração chamada Sudarshan Kriya (SKY).
SKY é uma técnica que atua na regulação do sistema nervoso autônomo, dissolvendo o estresse acumulado, reduzindo a fadiga e modulando emoções negativas. O resultado é uma mente mais calma e focada, e um corpo mais energizado e relaxado.
Como médica, e como alguém que viveu na pele os efeitos dessa prática, me sinto na
obrigação de compartilhar.
Foi chocante — e revelador — perceber algo tão simples: todas as emoções estão
diretamente ligadas ao ritmo da nossa respiração. Quando estamos com raiva,
respiramos de forma curta e rápida. Quando estamos tristes, a respiração fica pesada e
profunda. Quando estamos ansiosos, ela se torna irregular. A grande virada de chave
foi entender que isso também funciona de fora para dentro: ao mudar a respiração,
podemos mudar como nos sentimos.
Essa foi uma das maiores descobertas da minha vida. E não é mágica. É neurofisiologia.
Minha mente médica, científica e racional quis entender melhor o que estava por trás
dessa transformação tão profunda que eu estava vivendo. E fui atrás dos dados.
Atualmente, já existem mais de 190 estudos científicos publicados sobre os efeitos do
Sudarshan Kriya (SKY).
Recentemente, um ensaio clínico randomizado publicado no JAMA Network Open (Korkmaz A. et al., 2024) avaliou 129 médicos que praticaram Sudarshan Kriya.
O estudo demonstrou reduções significativas em sintomas de estresse, ansiedade e
depressão quando comparados ao grupo controle. Embora a pesquisa tenha sido feita
em profissionais de saúde — um grupo particularmente vulnerável ao burnout —, seus
achados dialogam com uma realidade que atravessa diversas áreas da sociedade.
Hoje, a pressão, a sobrecarga emocional e a exaustão não pertencem apenas aos
hospitais: estão nos escritórios, nas salas de aula, nas fábricas, nas famílias.
Profissionais de diferentes setores, assim como estudantes, cuidadores e até mesmo
adolescentes, enfrentam níveis preocupantes de estresse e adoecimento psíquico. Em
muitos casos, esse sofrimento, quando não acolhido, pode evoluir para quadros de
depressão grave e aumentar o risco de suicídio.
Outros estudos apontam para melhorias em qualidade do sono, concentração, clareza
mental, redução do estresse e da inflamação no corpo, e aumento da sensação de
bem-estar geral.
Fico me perguntando: por que não estamos usando mais amplamente práticas como o Sudarshan Kriya nos programas de prevenção ao suicídio? Não como solução única, claro, mas como parte de uma abordagem integrada, junto com psicoterapia, medicina e suporte social. Afinal, estamos falando de uma ferramenta acessível, segura e cientificamente comprovada, que pode ser ensinada nas escolas, universidades, empresas, postos de saúde... E tudo isso começa com algo tão simples quanto respirar.
Escrevo esse artigo com o coração aberto. Como médica, como instrutora voluntária
da Arte de Viver, e principalmente como ser humano que aprendeu — com dor, suor e
lágrimas — que há sim uma saída. Se você está passando por um momento difícil,
saiba que você não está sozinho. Procure ajuda profissional. Converse com alguém de
confiança. E, se quiser experimentar, permita-se dar um passo a mais:
descubra o poder da sua respiração. Às vezes, o recomeço que a gente tanto procura... está bem aqui, na ponta do nariz.
Dra. Mariana Castellaneta
Cardiologista
Médica do Hospital Universitário Pedro Ernesto - UERJ
Instrutora voluntária da Arte de Viver
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