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Respire Fundo: Um Convite à Esperança no Setembro Amarelo

Junto com a primavera, vem uma sensação de renascimento. É como se a natureza,

silenciosamente, nos lembrasse: há sempre um recomeço possível.


Talvez o que vou compartilhar aqui pareça óbvio para alguns, mas, na prática, ainda é

pouco falado — e menos ainda vivido. Me veio uma vontade forte de abordar esse

tema delicado e urgente: saúde mental, depressão e suicídio.




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De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1 em cada 4 pessoas será

afetada por algum transtorno mental ao longo da vida, sendo a ansiedade e a

depressão os mais comuns. Mas o dado que mais me impacta é este:


cerca de 700.000 pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo. Isso significa uma morte a cada 40 segundos. No Brasil, uma pessoa tira a própria vida a cada 45 minutos.

Esses números não são apenas estatísticas. São histórias interrompidas. São famílias

devastadas. A verdade é que eu nem consigo imaginar a dor de quem chega a esse

ponto. Mas conheço a dor dos que ficam.


Sou médica, e ao longo da minha vida já passei por momentos bastante difíceis

pessoais e com os meus pacientes. E percebi algo triste: ninguém nos ensina a lidar

com as emoções. Nem em casa, nem na escola, muito menos na faculdade de

medicina ou nos ambientes de trabalho. Hoje, muito se fala sobre saúde mental — o

que é um avanço. Mas ainda pouco se fala sobre como, de forma simples e prática,

podemos promover bem-estar emocional real e duradouro.


No auge de um burnout, foi quando eu encontrei — ou melhor, fui encontrada por —

uma prática que mudou a minha vida. Na época, me tornei voluntária da organização

Arte de Viver, e lá conheci uma técnica de respiração chamada Sudarshan Kriya (SKY).

SKY é uma técnica que atua na regulação do sistema nervoso autônomo, dissolvendo o estresse acumulado, reduzindo a fadiga e modulando emoções negativas. O resultado é uma mente mais calma e focada, e um corpo mais energizado e relaxado.


Como médica, e como alguém que viveu na pele os efeitos dessa prática, me sinto na

obrigação de compartilhar.


Foi chocante — e revelador — perceber algo tão simples: todas as emoções estão

diretamente ligadas ao ritmo da nossa respiração. Quando estamos com raiva,

respiramos de forma curta e rápida. Quando estamos tristes, a respiração fica pesada e

profunda. Quando estamos ansiosos, ela se torna irregular. A grande virada de chave

foi entender que isso também funciona de fora para dentro: ao mudar a respiração,

podemos mudar como nos sentimos.


Essa foi uma das maiores descobertas da minha vida. E não é mágica. É neurofisiologia.

Minha mente médica, científica e racional quis entender melhor o que estava por trás

dessa transformação tão profunda que eu estava vivendo. E fui atrás dos dados.

Atualmente, já existem mais de 190 estudos científicos publicados sobre os efeitos do

Sudarshan Kriya (SKY).


Recentemente, um ensaio clínico randomizado publicado no JAMA Network Open (Korkmaz A. et al., 2024) avaliou 129 médicos que praticaram Sudarshan Kriya.

O estudo demonstrou reduções significativas em sintomas de estresse, ansiedade e

depressão quando comparados ao grupo controle. Embora a pesquisa tenha sido feita

em profissionais de saúde — um grupo particularmente vulnerável ao burnout —, seus

achados dialogam com uma realidade que atravessa diversas áreas da sociedade.


Hoje, a pressão, a sobrecarga emocional e a exaustão não pertencem apenas aos

hospitais: estão nos escritórios, nas salas de aula, nas fábricas, nas famílias.

Profissionais de diferentes setores, assim como estudantes, cuidadores e até mesmo

adolescentes, enfrentam níveis preocupantes de estresse e adoecimento psíquico. Em

muitos casos, esse sofrimento, quando não acolhido, pode evoluir para quadros de

depressão grave e aumentar o risco de suicídio.


Outros estudos apontam para melhorias em qualidade do sono, concentração, clareza

mental, redução do estresse e da inflamação no corpo, e aumento da sensação de

bem-estar geral.


Fico me perguntando: por que não estamos usando mais amplamente práticas como o Sudarshan Kriya nos programas de prevenção ao suicídio? Não como solução única, claro, mas como parte de uma abordagem integrada, junto com psicoterapia, medicina e suporte social. Afinal, estamos falando de uma ferramenta acessível, segura e cientificamente comprovada, que pode ser ensinada nas escolas, universidades, empresas, postos de saúde... E tudo isso começa com algo tão simples quanto respirar.


Escrevo esse artigo com o coração aberto. Como médica, como instrutora voluntária

da Arte de Viver, e principalmente como ser humano que aprendeu — com dor, suor e

lágrimas — que há sim uma saída. Se você está passando por um momento difícil,

saiba que você não está sozinho. Procure ajuda profissional. Converse com alguém de

confiança. E, se quiser experimentar, permita-se dar um passo a mais:


descubra o poder da sua respiração. Às vezes, o recomeço que a gente tanto procura... está bem aqui, na ponta do nariz.

Dra. Mariana Castellaneta

Cardiologista

Médica do Hospital Universitário Pedro Ernesto - UERJ

Instrutora voluntária da Arte de Viver



 
 
 

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